Wednesday, July 13, 2016

É distância ou fim mesmo?


Tenho tentado escutar também meus amigos de dentro da caixa deles. Faz tempo consegui ver nitidamente as caixas de meu pai. Algumas de minha mãe... Algumas pessoas são mais difíceis de identificar o que é caixa e o que é pessoa... Mas de um modo geral sinto que estou numa fase onde convivo melhor com as pessoas. Mas ainda me pergunto muito, sempre que sinto alguém se afastar, se é algo que pode ser evitado. Pergunta mais difícil esta!

(Imagem: The Balance - Christian Schloe)

O momento que o Brasil vive desde 2013 (para tentar pontuar) é um momento de começar a identificar algumas caixas: de racismo, preconceito, homofobia e tantas outras máscaras que foram começando a cair.

Nesse processo algumas pessoas ficaram nuas e não sabiam mais lidar com isso. E para mim ficou igualmente difícil lidar com elas. Separar o que eu consigo aceitar em termos de diferença e o que eu não consigo aceitar em termos de ideologia. E eu sei que muitas dessas mesmas pessoas se sentem assim em relação a mim.

Eu sou por essência leal. A única característica que tenho certeza sobre mim é essa. Prezo imensamente a lealdade. Observe que lealdade está fundamentada em convicção e fidelidade conveniência. Eu sou leal. Tenho muita dificuldade de desistir de pessoas por que o que me uni (quando realmente me sinto conectada a ela) é a convicção de que essa pessoa tem bom caráter e, algo mais difícil de definir, boa alma. Nunca fui do tipo que idealiza pessoas, do tipo que acha que a pessoa é maravilhosa, sem defeitos. Não acredito em pessoas que parecem "perfeitinhas". Não confio nelas. Meus amigos, assim como meu amor, não precisam ser perfeitos, ter um ótimo temperamento, nem dada disso. A única coisa fundamental para mim é que sejam íntegros e verdadeiros.

Atualmente tenho lidado com um dilema. Deparei com algumas “caixas” no outro que não consigo conviver. E isso tem me levado a milhares de questionamentos. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão sobre isso de fato, mas acho triste pensar que posicionamento político impossibilite pessoas de conversar e conviver. Mas fato é que política é algo que não se tira da vida. É impossível decidir simplesmente não viver esse aspecto da nossa existência humana. Você pode ser omisso e deixar os outros decidirem por você, mas você nunca ficará imune às consequências disso. Sendo assim não compro essa de ser neutro. Já dizia Paulo Freire, todo ato é ideológico. Mas eu acreditava que as relações afetivas conseguiam sobreviver às diferenças dessa natureza... Nesse cenário que até Abril era de ódio crepitante eu me senti uma Judia que era amiga de um Nazista... Será que os anos vividos juntos seriam suficientes para manter uma amizade? Muitas coisas foram ditas e não se desdiz a generalização e a ofensa raivosa (mesmo que não direcionada a mim mas as pessoas que pensam como eu).

Hoje a distancia entre nós me faz questionar se é o fim ou apenas um momento de isolamento para reflexão. A resposta eu não sei, mas essas questões existirão para sempre. Qual é o limite do que deve ser tolerado? Será que discordar silenciosamente numa mesa de bar ou de uma festa seria o caminho? Será que ainda é possível discordar sem brigar? Será que um dia o Brasil voltará a ser “cordial”?

Quanto ao Brasil acho que, apesar de estar sendo um processo doloroso, é importante assumir que somos sim preconceituosos, racistas, homofobicos, machista e que o “jeitinho Brasileiro” não passa de eufemismo para ocultar o fato de a corrupção ser nocivamente aceita no nosso dia a dia. Encarar isso é o modo de se mudar. É como no luto: chega de negação!

Supostamente os estágios do luto são: Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação.  No caso das relações afetivas não sei onde me encontro por que ainda não sei se é o fim. Seria isso negação?

Olhando em retrocesso não foi a política que nos afastou, na verdade foram escolhas. De repente percebi que não fazia mais parte da vida de alguém muito querido.  E o que dificultava avaliar a situação é que para ser amigo não precisa se estar junto todo o tempo. Tenho vários amigos que vejo poucas vezes ao ano, mas em qualquer conversa ao telefone ou encontro em aniversário é a mesma coisa, como se nunca houvéssemos nos separado. 

Apesar de tudo o meu carinho continua o mesmo. Em algumas opiniões agora estamos cada vez mais distantes mas o momento que percebo que não faço parte mais grita quando percebo que nos vemos cada vez menos e estamos cada vez mais sem assunto. Será isso um fim ou apenas uma fase?

Sei que esse texto é apenas um desabafo mas talvez alguém também já se sentiu assim, não é mesmo? Se ainda dói ainda há salvação...

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